quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Capítulo IV do Nobiliário da Madeira - Noronhas

Capitulo IV.
Continuasse a mesma materia, e se referem os
appellidos que se conthem nas letras H. L. M.

Henriquez: Procedem de D. Joam Henriquez filho terceiro de D. Henrique Henriquez II. Senhor das Alcaçovas, Aprezentador, e Casador mor dos Reys D. Affonso V., D. Joam II., e D. Manoel; e sua primeira mulher D. Felippa de Noronha filha de João Gonçalves da Camara II. Capitam Donatario do Funchal, e de D. Maria de Noronha sua mulher; cuja rezão o trouse a viver nesta Ilha, onde rezidio na villa da Ponta do Sol; e jaz sepultado na cape//la do Sanctissimo da Igreja Collegiada da mesma villa. Cazou no anno de 1510., com D. Joana de Abreu filha de João Fernandes do Arco, e de Beatriz de Abreu sua mulher; e forao seus filhos o veneravel Padre Leam Henriques da Companhia de Jesus, e D. Afonso Henriques que herdou a caza; cuja baronia se acabou em D. Henrique Henriquez seus descendente, que faleseu solteyro em 20. de Março de 1611., e passou a caza com os morgados a sua irmãa D. Joanna Henriques, que cazou em 11. de Abril de 1622., com Antonio Correa Betencurt, chefe da familia dos Correas; em cujo bisneto Antonio Correa Betencurt Henriques, hoje se concerva.
Outros Henriquez, que são Noronhas, procedem de D. João, e D. Diogo Henriquez, de D. João e D. Garcia de Noronha, todos quatro filhos de D. Garcia de Henriquez, que viveo em Sevilha, bisneto de D. Afonso Conde de Gijon e Noronha, filho illegitimo del Rey D. Henrique II., de Castella. Cazaram estes quatro cavalheyros nesta Ilha nobremente; como escreve em titulo particular, de Henriquez Noronhas da Ilha da Madeira, Alonso Lopes de Haro, deduzindo a sua descendencia.
Outros Henriquez, procedem de Henrique Alemão, natural de Polonia, e Cavalheyro de Sancta Catherina, que passou a viver// nesta Ilha pellos annos de 1450., e povoou na Madalena, onde se lhe deram terras de sexmaria, como ja disemos em outra parte. Cazou com Senhorinha Annes, de quem teve a Segesmundo Henriquez, que faleceu solteyro vindo de Lisboa para esta Ilha; e Barbora Henriques que cazou, e teve descendencia deste appellido.

Heredias: Procedem de D. Antonio de Heredia, natural de Avila, e filho de Dom Christovam de Heredia, e de D. Francisca de Morales. Passou a esta Ilha por Capitão da gente de guerra do prezidio castelhano, em tempo da sugeição de Castella. Faleseu em 12. de Março de 1624., sendo cazado com D. Anna de Cubas natural das Ilhas Canarias.
Homens: Procedem de Garcia Homem de Souza que cazou com Catherina Gonçalves da Camara filha de João Gonçalves Zarco; o qual se dis ser filho de João Homem, e neto de Pedro Homem, hum dos doze Cavalheyros de Inglaterra; conforme hua certidão do doutor Christovão Alão de Moraes Dezembargador do Porto, e grande investigador de antiguidades. Teve a Diogo Homem de Souza que faleceu solteiro, e a Leonor Homem de Souza que cazou duas vezes; hua com Duarte Pestana de Brito fidalgo da Caza del Rey; e outra com Ruy Dias de Aguiar seu primo irmão. Foi seu sobrinho Ruy Fernandes Homem, que faleceu//nesta Ilha o anno de 1504., e jaz em S. Francisco do Funchal. Cazou duas vezes, e de ambas teve larga descendencia, que seguio este, e outros appellidos.
Outros do mesmo appellido, procedem de Francisco Homem de Gouvea, fidalgo da Caza del Rey D. Manoel; o qual tirou Brazão de Armas desta familia, em 13. de Abril de 1535., onde justificou ser filho de Francisco Homem, e neto de Pedro Homem, morador em Gouvea e fidalgos de linhagem. Viveu no Estreyto da Calheta, onde instituhio hum morgado, com a Capella dos Reys, que alli edificou, para que se conservasse nos seus descendentes primogenitos, por doação feita em quatro de Agosto de 1529. Cazou com Izabel Afonso, filha de Belchior Gonçalves Ferreyra, e de Branca Affonso Doromondo. Foi seu neto o doutor Antonio da Gama Pereyra Dezembargador do Paço, e insigne nas letras, como ja dissemos.

Lemes: Procedem de Martim Leme, filho legitimado por El Rey D. Afonso V., no anno de 1464., de outro Martim Leme Cavalheyro Flamengo, de que faz memoria Manoel Soeyro nos seus annaes de Flandes, que voltando depois de Portugal a sua patria, foi gentilhomem da Camara do Emperador Maximiliano, e Escutete de Brujas. Passou o// dito Martim Leme a esta Ilha no anno de 1483., em que escreveu o Duque Infante D. Fernando, ou D. Diogo seu filho, hua carta em seu favor a Camara desta Cidade, então villa. Jaz sepultado no Cruzeyro da Igreja de S. Francisco do Funchal; e foi seu filho Antonio Leme, que teve larga descendencia de sua mulher Catherina de Barros filha de Pedro Gonçalves da Clara, e de sua mulher Izabel de Bairos; a qual instituhio hum morgado na villa da Ponta do Sol, que posuem os descendentes de sua filha D. Leonor Leme; e seu filho Pedro Leme, instituhio outro na freguezia de S. Antonio, junto a esta Cidade, com oubrigação de se conservar esta appellido nos administradores delle.
Lomelinos: Procedem de Bautista Lomelino, Irmão de Urbano Lomelino fundador do Convento de Nossa Senhora da Piedade, e instituidor do Morgado na villa de Sancta Cruz; os quais eram naturaes de Genova, de hua das vinte e oito familias, ou appellidos, a que reduzio aquella Republica a sua antiga nobreza no anno de 1528. Passarão a esta Ilha no de 1476., e foi seu filho Jorge Lomelino, fidalgo da Caza del Rey D. Manoel, e herdeyro do morgado de seu tio, em que se inclue o Padroado do dito Convento. Servio em Africa, e achouse na tomada de Azamor. Faleceu em 9. de Dezembro de// 1548., e jaz sepultado na capella mayor da Igreja do mesmo Convento, como deixamos dito em outra parte. Cazou com Maria Adão filha de João Adão da Casta Grande dos Ferreiras; de quem teve nobres descendentes, e foi seu filho herdeiro Francisco Lomelino, que servio valerozamente em Africa, onde ficou captivo na tomada da fortaleza de Cabo de Guer, e ao cabo de sete annos fugio do cativeiro com o Mouro da sua Guarda, como refere Furtuozo. Cazou primeira vez com D. Izabel de Moura filha de João de Ornellas de Vasconcellos, e D. Cezilia de Moura, de quem teve a Jorge Lomelino que faleseu na Batalha de Alcacere em 4. de Agosto de 1578. Solteiro segunda ves em 7. de Agosto de 1570. Cazou com D. Joana Correa filha de Antonio Correa o Grande, e de D. Izabel de Betencurt, de quem teve a Francisco Lomelino, que faleceu em vida de seu Pay, e nelle se acabou a boronia legitima; pello que passou o Morgado desta caza aos descendentes de sua Irmaa Anna Lomelino mulher de Duarte Teixeyra, de quem não teve sucesão, porem sim de seu segundo marido Estevão Calaça, de quem foi terceira neta D. Catherina Lomelino de Vasconcellos, que o levou em dote a Caza dos Correas, para cazar com Francisca Esmeraldo Henriques, cujo filho Antonio Correa Henriques Lomelino, hoje a possue.

Leminhana: Appellido Catalão, ou Valenciano, uzão delle os Berengueiz, tomando-o do Doutor Pedro de Berenguer de Leminhana, como ja disemos em o primeiro capitulo.

Machados: Procedem de João Machado de Miranda, natural de Guimaraes, filho de Antonio Machado de Villas Boas, e de Magdalena Vasques de Maya, sua mulher; o qual passou a esta Ilha a chamado de seu tio Bertholameu Machado, filho de Lopo Machado de Goes, por não ter herdeiros de sua mulher D. Francisca de Velloza; e ambos instituirão morgado de seus bens na descendencia do dito seu sobrinho, com oubrigação do Apellido de Machados, no qual se inclue a celebre espada de Viriato, em que falla Manoel de Faria e Souza, para o que o cazarão com D. Francisca de Velloza, filha de Hirvão Teixeira, e de D. Maria de Velloza, Irmaã da sua instituidora; cujo morgado com outros, passou a caza dos Betencores Sâs, pello cazamento de sua neta D. Magdalena de Miranda com D. Gaspar de Betencurt e Sâ senhor do morgado da Agoa de Mel, dos quais passou a seu neto Francisco Luis de Vasconcellos Bettencurt Machado por sua filha D. Guimar de Sa mulher de Francisco de Vasconcellos Bettencurt da baronia dos Coutos; onde hoje se acha, com outras muitas cazas incluidas.

Mialheiros: Procedem de Pedro Gonçalves Mialheiro, e seu Irmão Antonio Mialheiro, filhos de Gonçallo Mialheiro Senhor da Quinta de Alhandia em Portugal. Passarão a esta Ilha; nos fins do Seculo 1500., e nella cazaram nobremente, de que descendem alguas cazas das principaes.

Mirandas: Procedem de João Lourenço de Miranda, hum dos nobres companheiros de João Gonçalves Zarco, no descubrimento desta Ilha, o qual o escolheu para esta empreza, entre os mais de que faz memoria o Poeta de Guimaraes, dizendo delle:

"Escolheo João Lourenço de Miranda
Novo Bellerophonte, o que pudera
Mais que a empreza, a que Henrique o manda,
O lugar pertender da quinta esphera".

Foi Irmão de Izabel Lourenço de Miranda mulher de Luis Alvares da Costa, e filhos ambos de Pedro Lourenço de Miranda Pagem da lança do Infante D. Henrique. Cazou com D. Ignes Monis; de quem nacerão Catherina Lourenço de Miranda mulher de Luis Mendes de Vasconcellos, e Maria Lourenço de Miranda mulher de Joane Mendes de Vasconcellos, ambos filhos de Martim Mendes o velho, e netos do mesmo Zarco; De ambos procedem nobillissima descendencia, como dis o mesmo Poeta.

"João Lourenço insigne de Miranda,
Também com descendencia poderoza
Em augmentar da ilha as glorias anda,
Com geração illustre, e generoza".

Outros Mirandas procedem de João Machado de Miranda como vimos assima no appellido de Machados.

Mondragoes: Procedem de João Rodrgiues Mondragão natural de Biscaya, e filho de Garcia Banhes de Mondragão, que tinha seu solar no valle de Artazubiaga, na Provincia de Guipuscoa; cujas armas são dous Dragoes rompentes contra hua Torre, com as collas para baixo; e por orlas, veneras de prata, como se vem na sua // capella de S. João Bautista, na Igreja do Convento de S. Francisco do Funchal. Faleseu em 25. de Fevereiro de 1550., instituindo, com sua mulher, morgado de seus bens, em seus descendentes primogenitos; e por falta delles, entrou por cazamento na Caza dos Coutos, onde hoje existe. Produzio esta familia varoes insignes em letras, como disemos ja em outra parte.

Monizes: Procedem de Vasco Martins Monis fidalgo da Caza del Rey, e filho segundo de Henrique Monis Alcaide mor de Silves, e de sua segunda mulher D. Ignes de Menezes filha de Gonçallo Nunes Barreto Alcaide mor de Faro, e de D. Izabel Pereira, que foi filha de Diogo Pereyra comendador mor da Ordem de Santiago, e Governador da Caza do Infante D. João, filho del Rey Dom João I. Passou a povoar nesta Ilha, onde teve grande caza na villa de Machico. Delle faz memoria Manoel Thomas, com a ocazião de socorrer a fortaleza de Cabo de Guer, com hum navio a sua custa, em hum largo panegirico. Cazou tres vezes na mesma Ilha; e deixando nobilissima descendencia, de que ainda se conserva a baronia, faleseu em Portugal na villa de Torrão, em caza de sua May, no anno de 1510., havendo instituido morgado da sua terça, no testamento que aprovou em 15. de Setembro de 1483.//

Moraes: Procedem de João Moraes, filho de João Fermozo de Moraes e neto de outro João Fermozo de Moraes alcayde mor de Bargança; como consta da justificação que fez seu filho Sebastiam de Moraes o velho, para tirar Brazão das suas armas, o qual se lhe passou em 26. de Janeiro de 1508. Viveu na villa de Machico, cazado com Izabel Nunes Cardoza irmaã de Nuno Fernandes Cardozo o de Gaula, e filhos de Fernão Nunes de Govea, como ja fica dito. De seus filhos procede nesta Ilha muita nobreza, como tambem na Ilha Terceyra, onde passou seu filho Francisco de Moraes, e sua Irmaã Maria de Moraes, que foi May do lecenciado Antonio de Moraes. Extincta a sua baronia em Francisco de Moraes de Aguiar, seu terceyro neto, que faleceu sem filhos em 23. de Fevereiro de 1634., passou o morgado desta casa com o Padroado da Capella do Spirito Sancto na Collegiada de Machico, a familia dos Homens Souzas, pello cazamento de sua irmaã D. Felippa da Camara com Antonio da Silva Barreto filho de Jorge Mialheyro Pereira, e de D. Elena de Menezes; pellos quaes o pesuhe hoje Pedro Julio da Camara Leme.//

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