quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Documento G

Aclamação d'El-Rei D. Felipe 1.º de Portugal: consta do Livro dos Acórdãos da Câmara.
No ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1583, aos 11 do mês de Agosto do dito ano, nesta Vila da Praia da Ilha Terceira de Jesus Cristo, por estar assentado em Câmara da dita Vila neste Domingo e dia se levantasse por nosso Rei e Senhor ao Sereníssimo Senhor Rei D. Felipe, e assim de jurar ao príncipe D. Felipe seu filho por príncipe e Senhor dos ditos Reinos, e para isso serem advertidos e notificados as pessoas nobres e povo da Vila e sua capitania, antes da entrada da Missa do dia do dito Domingo e da pregação, os Vereadores da dita Vila a saber — Manoel de Sonsa d'Ornelas e Gaspar Cardoso Machado, juizes, Francisco de Vila Lobos, e Manoel Teixeira de Melo, e Baltazar de Mesquita, Vereadores, com Simão Fernandes, Procurador do Concelho, e comigo, Escrivão, e muita gente que os acompanhou, foram à Câmara da dita Vila, onde já à janela dela estava arvorada a bandeira d'El-Rei, e casa armada, e da dita Câmara saíram todos com as varas nas mãos, estando a praça e rua cheia de muita gente, nobre, fidalgos, Cavaleiros, Escudeiros, e pessoas do povo, e assim o Reverendo Padre Licenciado João Luiz Homem, Vigário da Igreja principal da dita Vila, e com ele os Beneficiados Vigários das igrejas de fora, e clerezia da dita vila e sua jurisdição, os mais deles: e logo em presença de todos foi dado pelo Vereador mais velho a Heitor Homem da Costa, fidalgo da casa do dito Senhor, a dita bandeira, e tomada pela Câmara foram postos por assistentes quatro pessoas nobres, fidalgos, a saber: Hironimo Paim da Câmara, Afonso Homem da Costa, e Gaspar Homem da Costa, dois de cada banda da bandeira, e um querendo andar, por Diogo Paim da Câmara, um dos assistentes, em inteligível e alta voz foi dito "Real Real por o muito cristianíssimo e alto, o poderoso Senhor D. Felipe Nosso Senhor, Rei de Portugal"; e logo começando a andar, responderam todos os circunstantes em alta voz "Real, Real" e assim foram como em procissão pelas ruas, desde a da Câmara, pela da Misericórdia e de Sebastião Vieira e do Mosteiro da Luz, à praça, e dali ao chafariz principal e rua do Mosteiro de Jesus, à Igreja principal; no convento até chegar à dita Igreja se deram nove pregões pelo dito Diogo Paim, e lhe foi respondido assim pela maneira do primeiro, e se começou a Missa solene e pregação do próprio Vigário em que exortou com muita instância o juramento que se havia de prestar do Rei e príncipe; e acabada a Missa, com a Igreja cheia de gente, no íntimo dela estava uma Mesa ornada com um frontal de seda, e em ela um livro de Missas, onde primeiramente o dito Vigário de joelhos, em seu nome e dos beneficiados, Vigário e clerezia da Vila e capitania; com muitas palavras e solenemente jurou por Rei e Senhor e defensor dos Reinos e Senhorios de Portugal a El-Rei Nosso Senhor D. Filipe, e Sucessor dos ditos Reinos e Senhorios. E assim, deram juramento nas suas mãos e livro, a saber, primeiro o juiz Manoel de Sonsa d'Ornelas, o primeiro juramento, e da mesma maneira, em seu nome e da Câmara atrás, e acabada ali nas mãos do dito juiz o livro e com joelhos prestaram o dito juramento o outro Juiz e Vereadores, cada um por si e em nome de todo o povo miúdo, todos jurarão da própria maneira ao dito Senhor Rei e príncipe: e uns e outros protestaram suas lealdades, e conservariam como a seu único e verdadeiro e aprovado Rei e Senhor. E acabado o dito juramento, por todos foi dado "que vivesse como Senhor" e em alta voz disseram todos: "Viva, Viva El-Rei D. Filipe e o príncipe seu filho e sucessor". E porque no auto sobredito se gastou muito tempo, se não fez a procissão solene que estava ordenada, e se dilatou para quinta feira seguinte, por ser dia da Santa Cruz de Nosso Senhor, por se dignar ser protector em terra e Reino, e nos dar tal Rei, e que seja todo para glória do mesmo Senhor, e aumento de sua Santa Religião, e utilidade destes Reinos e Senhorios.

E de tudo se mandou fazer este Auto, que eu Francisco Ferreira Teixeira, Escrivão desta Câmara todos presentes escrevi = Gaspar Cardoso Machado Manoel de Sousa d'Ornelas, Manoel Teixeira de Melo, Baltazar de Mesquita Teixeira Francisco de Vila Lobos; Simão Fernandes, João Luiz Homem.
Fontes:
Francisco Ferreira Drummond. Memória Histórica da Capitania da Praia, in Memória Histórica do Horrível Terramoto de 15.VI.1841 que Assolou a Vila da Praia da Vitória, edição da Câmara Municipal da Praia da Vitória, Praia da Vitória, 1983 (reimpressão fac-similada da edição de 1846), 283 pp.
A ortografia foi actualizada e a errata introduzida.

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