quarta-feira, 18 de março de 2009

Sobrenome Câmara

Cinco Séculos de Idade - Legado de um Marujo
O sobrenome Câmara tem agora 527 anos. A primeira pessoa autorizada a usar esse nome de família foi JOÃO GONÇALVES ZARCO, um marujo português que costumava a combater os mouros ao longo da costa africana a serviço de Sua Majestade, o Rei de Portugal.

Numa dessa batalhas, seu navio perdeu a rota e chegou por acaso num grupo de Ilhas localizadas a 500 quilômetros da costa de Marrocos. A maior das ilhas era coberta por uma exuberante vegetação e Zarco a denominou Ilha da Madeira. No litoral dessa ilha, Zarco e seus tripulantes viram muitos leões marinhos (no português antigo: lobos marinhos) escondidos numa caverna e chamaram aquele lugar de "Câmara de Lobos".

Em sua volta a Portugal, Zarco relatou à Sua Majestade a descoberta. O Rei então autorizou Zarco e seus companheiros, Tristão Vaz e Bartolomeu Perestrello, a iniciar a colonização daquelas ilhas. Cada um deles ficou no comando de uma Capitania: Zarco no Funchal, Tristão em Machico e Perestrello em Porto Santo.

Em razão da eficiência daqueles homens, em poucas décadas riquezas já podiam ser transferidas para o Reino de Portugal.

O Rei Dom Afonso recompensou aqueles homens com títulos de nobreza.
Aos 4 de julho de 1460, Sua Majestade Dom Afonso de Portugal publicou um Decreto Real concedendo a João Gonçalves Zarco o título de Cavalheiro, um Brasão e mudou seu nome para JOÃO GONÇALVES DA CÂMARA DE LOBOS.
Apesar do Decreto Real, o nome de família "Gonçalves da Câmara de Lobos" não durou como tal. Os filhos de Zarco usaram ou "Gonçalves da Câmara" ou

"Rodrigues da Câmara", sendo "Rodrigues" o nome de família da esposa de Zarco. Nas gerações que se seguiram, o sobrenome "Câmara" foi associado a muitos outros nomes de família, inaugurando novos ramos da família, tais como: "Bittencourt da Câmara", "Cabral da Câmara", "Leme da Câmara", "Monis da Câmara", etc. O sobrenome original "Gonçalves da Câmara" ainda pode ser encontrado entre descendentes do primeiro Capitão da Ilha da Madeira.

O sobrenome "Câmara" fez sua viagem através dos séculos para me alcançar no Século XX. Mas ocorreram momentos que esse nome de família quase foi deixado de lado. Por exemplo, uma ancestral, CONSTANÇA RODRIGUES DA CÂMARA, neta de Zarco, casou-se com Diogo Cabral. Suas duas filhas, ao invés de tomar o sobrenome paterno, preferiram manter o sobrenome materno "Câmara". Foram elas Isabel e PHILIPPA DA CÂMARA. Isabel tornou-se freira, assim Philippa foi a única que deveria levar o nome de família à frente.
Philippa da Câmara e seu marido, Francisco Monis, tiveram oito filhos. Seis deles tomaram o sobrenome do avô paterno "Cabral". Outros dois mantiveram o sobrenome "Câmara", um deles combinando-o com o nome da família paterna, "Monis", e o outro, meu ancestral JOÃO RODRIGUES DA CÂMARA, conservou o nome completo da família de sua mãe.

Nas duas gerações seguintes, o sobrenome "Câmara" esteve seguro. Mas o perigo de extinção voltou, quando aos dois de dezembro de 1606, MARIA MONIS DA CÂMARA, neta de João Rodrigues da Câmara, casou-se com Pero Berenguer de Leminhana, de origem espanhola. Eles tiveram cinco filhos e cada um deles adotou um nome de família diferente, associando sobrenomes de seus ancestrais:

João Berenguer de Andrada
Pedro Berenguer de Leminhana
Manoel d'Andrada de Leminhana
Bartolomeu de Melo Berenguer
e meu antepassado FRANCISCO MONIS DA CÂMARA.

MANOEL MONIS DA CÂMARA, filho de Francisco, nascido em setembro de 1671, foi o responsável por levar o sobrenome "Câmara" para o Brasil. Por volta de 1710, ele deixou a Ilha da Madeira em direção ao Novo Mundo.

Àquele tempo, a procura pelo ouro era a principal atividade da população brasileira. A maioria das minas de ouro eram localizadas na Província de Minas Gerais, onde Manoel Monis da Câmara e seu primo Manoel Bittencourt da Câmara se estabeleceram. O segundo descobriu uma mina de ouro e tornou-se um dos homens mais ricos daquela época. Meu antepassado, Manoel Monis da Câmara, não teve a mesma sorte. Mas parece que conseguiu alguma ajuda de seu primo rico para comprar uma fazenda. Tornou-se fazendeiro e criou seus filhos: Manoel, Anna, Rosa e Josepha. Todos eles tinham sobrenome "Monis da Câmara".

JOSEPHA MONIS DA CÂMARA casou-se com o madeirense Manoel Gomes Rodrigues in 1737. Eles tiveram onze filhos. O sobrenome "Câmara" então enfrentou uma crise quase fatal. Somente um dos filhos de Josepha, Philippe, tomou o sobrenome "Câmara". Ele costumava a assinar um longo e pomposo
nome de família: "Gomes Rodrigues da Câmara".

Philippe Gomes Rodrigues da Câmara, que foi fazendeiro e mineiro, morreu em agosto de 1818, deixando oito filhos. Novamente o sobrenome "Câmara" esteve em perigo. Somente um de seus filhos, meu ancestral JOSÉ GOMES RODRIGUES DA CÂMARA, manteve o nome de família completo, que foi passado a seus descendentes até chegar ao Século XX.

Meu avô ILLIDIO GOMES RODRIGUES DA CÂMARA, nascido em 30 de outubro de 1879 e falecido aos 20 de outubro de 1950, foi o último a usar esse imenso nome de família.
Meu pai, eu e meus irmãos mantivemos "Rodrigues Câmara". Mas os netos de meu pai, entretanto, apenas têm o "Câmara" como sobrenome.

Custou-me muitos anos de pesquisa para alinhar todos os elos de mim até o primeiro Câmara, João Gonçalves Zarco, o marujo. Qual deveria ser minha herança dele após 500 anos? Se a hereditariedade fosse matemática, poder-se-ia dizer que somente 1/66124 de suas características seriam encontradas em mim. Por outro lado, um 1/3 de seu nome original de família, "Gonçalves da CÂMARA de Lobos", faz parte de meu próprio nome de família... Sou orgulhoso desse legado.

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