quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ovnis: Realidade ou Invenção


A continuada observação e registo de eventos aeroespaciais de natureza complexa ainda não identificada foi-se traduzindo ao longo das últimas cinco décadas, em termos mundiais, na popularização do acrónimo ovni (objecto voador não-identificado). A intervenção dos meios de comunicação social transformou essa pluralidade de narrativas num objecto mediático, logo objecto de controvérsia, apaixonada e emocional, sobre a natureza dos aludidos eventos.

Quando alguém faz uma pergunta do género: ”Você acredita em ovnis?”, desde logo se reflecte o convencimento, da parte de quem pergunta (e para muitos dos inquiridos), de que esses objectos voadores não-identificados” são algo excêntrico ao nosso mundo: representariam, a priori, um produto tecnológico de uma supercivilização extra-humana de cuja existência, a falta de prova científica socialmente aceite, só se pode fazer um juízo de fé. Daí que ”acredita-se” ou não.

Assim se percebe que, regra geral, na discussão destas questões estão subjacentes sistemas de crença, ou seja, grelhas culturais que determinam os nossos veredictos sobre categorias da moral, da ética, das relações entre os seres e as coisas; ainda acerca do que convencionamos ser ”verdadeiro ou falso”, ”racional/irracional”, ”possível/impossível”, etc. Em geral, a reacção do cidadão comum confunde habitualmente a questão da essência (a eventual natureza extraterrestre ou qualquer outra não-terrestre) com a da existência (há objectos que voam e não são identificáveis?), o que, deste modo, resulta na dicotomia: ”acreditar ou não acreditar”.

E porquê? Porque, sendo o ”objecto”-ovni popularmente identificado (por apropriação dos mass media, audiovisual, banda desenhada, ficção científica, etc.) com naves espaciais extraterrestres, de capacidades tecnológicas inimagináveis, esta realização fantástica reveste aspectos ”mágicos”, porquanto irrealizáveis do ponto de vista tecnológico terrestre contemporâneo. Segundo uma das leis propostas pelo conhecido cientista e escritor Arthur Clarke, ”qualquer hipertecnologia será sempre equivalente à magia”.






Os investigadores destes fenómenos extraordinários não têm que se sentir envergonhados por não terem a ”chave”, porque em muitas áreas cientificas e em situações humanas também se desconhece a forma como acontecem as coisas.

F. Carvalho Rodrigues





As observações na actualidade

Durante 50 anos, recheados de episódios e milhões de testemunhos depois de Arnold, assistiu-se a uma gradual e discreta mutação no ”núcleo duro” das experiências e observações relacionadas com objectos voadores não-identificados. Hoje, o hardcore das observações dá-se conta, essencialmente, de fenómenos luminosos complexos de origem multivária; de experiências subjectivas ”ex- traordinárias” em diferentes idades e estágios filogenéticos estimuladas por factos externos, logo cooptados e asso- ciados e a que se concede um significado especial; relatos estimulados por ”objectos” de pequenas dimensões a curta distância, ”aparições” de ”entidades” que se insinuam no ambiente doméstico, agentes de interiorização a caminho de uma espiritualidade antes ignorada; em menor escala, outras situações em que é possível cruzar informações electrónicas, visuais e audiovisuais sobre objectos e aeroformas que produzem, no mínimo, ao que parece, sinais susceptíveis de interpretação e validação científica em laboratório.

Mais do que isto ... só especulação. As grandes descobertas são lentas, mas as atitudes mentais (preconceitos e estereótipos) são-no ainda mais. Recorde-se, ao jeito de rodapé, o eminente Gilbert Keith Chesterton: ”A verdade tem que ser forçosamente mais estranha do que a ficção, porque esta fizemo-la nós à nossa medida.”


Mitos e realidades de um complexo objecto de ciência

Como já referido na introdução deste capítulo, para Arthur Clarke ”qualquer hipertecnologia será sempre equivalente à magia. Ora, um acto mágico não é demonstrável racionalmente. Integra por natureza o universo chamado ”sobrenatural”. Aceita-se ou refuta-se. Se é impossível à lógica e à razão comuns explicarem as capacidades desse ovni, é desde logo tentador assimilá-lo a um engenho espacial extraterrestre, fatalmente ”mágico” face ao estádio actual do conhecimento humano.

A propagação desta idéia ao nível das sociedades humanas – para as quais a compreensão dos fenómenos complexos implica uma explicação imediata, simplificadora, como teorizou Lévi-Strauss - gerou a componente mítica do fenómeno ovni=ET. A influência cultural da chamada ”civilização ocidental” industrializada, fortemente motivada pela informação acerca da exploração e ”conquista do espaço”, ajudou a projectar os cenários subconscientes da idéia extraterrestre e dos contactos com o(s) Outro(s) nas ”margens” ignoradas dos agora ”oceanos intergalácticos”.

Em termos sociológicos simples, estamos em presença de um mito contemporâneo. Mas, ao invés dos mitos clássicos, distantes e apagados nas sombras das narrativas heróicas, este é talvez o único mito vivo, actual, in the making, em pleno desenvolvimento da sua produção narrativa (!), território privilegiado, quase inexplorado, à espera da intervenção multi e interdisciplinar dos teóricos das ciências humanas e sociais, da psicologia a antropologia, da sociologia, psicanálise, ciências religiosas, entre outros. E a comunidade científica começa a entendê-lo.

A investigação global e a consequente resolução do problema dos fenómenos tipo ovni não se resolvem então no foro da crença, porquanto não se trata de um artigo de fé, de religião. Isto porque consideramos a existência de dois níveis de intervenção nesta área ”marginal”: o do fenómeno/objecto observado ou experienciado, que reclama dos domínios das ciências físicas, exactas, para avaliação directa dos seus parâmetros mensuráveis, e o da experiência ou ”leitura” humana da dita observação ou manifestação singular.

Ou seja, o primeiro aspecto trata das eventuais vertentes objectivas, materiais, de um dado fenómeno, da ”realidade” do testemunho, enquanto o segundo aspecto tem em conta um conglomerado de observáveis que incidem sobre a testemunha, o sujeito receptor da observação, e a transformação gradual dos dados em termos individuais (crenças, cultura, meio social, etc.). Estes dois níveis de abordagem conferem a dualidade mítica e real do fenómeno ovni.

Enquanto o nível satisfatório de informação técnica e teórica sobre estes fenómenos é partilhado apenas por uma escassíssima franja da sociedade e dos sectores da chamada ”massa crítica”, o que é ”filtrado” para o comum dos cidadãos baseia-se antes num pastiche de literatura de sensação, deturpações, etc., ampliado pelo rumor e condicionado pelas convicções pessoais.

Em termos de leitura sociológica, as leituras e interpretações das manifestações ”não-identificadas” ou extraordinárias dos nossos dias podem ser encaradas como expressão particular de uma cultura urbana que cultiva no ín- timo o gosto (e o temor!) pelo mistério (misterium, no sentido religioso do termo). Essa propensão atinge, ao nível dos estratos sociais culturalmente menos informados, atitudes e práticas do que poderíamos apelidar de ”superstições modernas”.


Uma proposta de definição

Uma avaliação científica global do ”núcleo duro” original desse espectro de observações de fenómenos luminosos ou estruturados, independentemente das múltiplas hipóteses explicativas que têm sido avançadas, permite configurá-Io em abstracto e, se nos retermos apenas em testemunhos irrepreensíveis, tecnicamente dignos de crédito, nos seus parâmetros mínimos: manifestações de aeroformas atípicas, estruturadas ou não, dotadas de uma dada massa/energia, de comportamento e morfologia anómalos (acelerações, cinética, luminosidade, etc.), cuja ocorrência aleatória, evanescente, temporariamente circunscrita no tempo e no espaço, desencadeia por vezes sequelas e efeitos no ambiente, organismo humano e equipamentos de medida, alguns deles potencialmente mensuráveis (por exemplo, ao nível das implicações físicas, clínicas, psicossomáticas, sinais e registos electrónicos, visuais, etc.).

Este espectro de manifestações, como se depreende, condensa-se em duas áreas bem diferenciadas: a dos fenómenos predominantemente luminosos, de características nocturnas, reportados como ”massas” mais ou menos informes, de contornos pouco vincados, e a dos objectos estruturados, definidos como ”metálicos” e dos quais as testemunhas obtêm uma sensação inequívoca de tridimensionalidade, geralmente observados à luz do dia.

Esta derradeira categoria gera, invariavelmente, grandes resistências nos espíritos mais renitentes à idéia, implícita nesta categoria de casos, de uma verdadeira e totalmente incógnita ”tecnologia” e respectivas infraestruturas mentais, sociais e materiais, algures perto ou longe ou coabitante do nosso planeta.

A fenomenologia em análise é genericamente alvo de reconhecidas e nefastas interpretações especulativas. Por exemplo, no tratamento, geralmente inadequado, já referido, por parte da generalidade da comunicação social, por grupos de entusiastas e fanáticos e por uma literatura de cordel apetente pelo inusitado, pelo insólito. Esse conjunto de experiências, de relatos factuais e de certas ”evidências” vai oferecendo, no entanto, vasta matéria para reflexão e inquirição académica.

Da colecta e investigação da massa testemunhal relativa a fenomenologia em causa até agora angariada por organismos e instituições oficiais e privadas credíveis, conclui-se da necessidade de uma progressiva aplicação de meios e critérios objectivos, simultaneamente imaginativos e racionais, nos limites de uma metodologia rigorosamente científica e na prospecção holística do problema, num exercício privilegiadamente multidisciplinar em sede própria, ou seja, nas universidades.


A ciência face aos não-identificados

O interesse científico, e até político, suscitado por estes fenómenos ficou marcado pela clássica iniciativa protagonizada pelo Projecto Blue Book, projecto de estudo conduzido pela USAF e coroado pelo tão discutido Relatório Condon, encomendado a Universidade do Colorado (a partir de Outubro de 1966), tendo por base a análise de cerca de 12 000 reIatos de observação de fenómenos aéreos reunidos pelos diferentes departamentos das forças armadas norte-americanas. Cerca de 700 casos não puderam ser explicados por causas conhecidas, naturais ou artificiais. No entanto, tal não foi suficiente para que os responsáveis do projecto, liderados pelo físico Edward Condon, pudessem considerar o assunto de ”interesse científico”.

Posteriormente, em termos europeus, entrou em actividade o Centro Nacional de Estudos Espaciais, de TouIouse, França, no seio do qual foi criado, em 1 de Maio de 1977, o GEPAN (Groupement d’Études des Phénomenes Aé- rospatiaux Non-Identifiés), hoje designado por SEPRA, cuja acção inquiridora dos eventos aeroespaciais e atmosféricos considerados extraordinários conta com o apoio do aparelho institucional (incluindo a intervenção preliminar da Gendarmaria no terreno) e da estrutura universitária francesa do Centre Nationale de Recherche Scientifique. No caso francês, cientistas do CNRS, como o físico Jean-Pierre Petit, ou Pierre Guérin, do Instituto Astrofísico de Paris, reflectem e intervêm com regularidade nas áreas da sua especialização.

O investimento e assunção do carácter excepcional e do valor epistemológico global das ”manifestações ovni” nas diferentes áreas disciplinares – ciências humanas e sociais e ciências físicas – foi sendo crescentemente afirmado na última década pela multiplicação de reuniões, simpósios, etc., de ambos os lados do Atlântico, com a consequente formação de grupos específicos que, mais ou menos discretamente, se tem constituído nos meios universitários mais prestigiados. Citemos, sem esgotar os exemplos:

A conferência realizada no célebre Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos, onde, de 13 a 17 de Junho de 1992, especialistas de variada formação – sociólogos, psiquiatras, antropólogos, folcloristas e psicólogos, além de investigadores das ciências físicas – debateram uma vasta gama de implicações sugeridas pelos chamados casos de ”sequestros” - narrativas em que pontificam os estados alterados ou modificados de consciência.

Nesses relatos, o indivíduo descreve ”contactos” involuntários e traumáticos com hipotéticas ”entidades alienígenas”, as quais, de acordo com o relato da testemunha, geralmente obtido sob hipnose, procedem a um ritual específico de experiências ”clínicas” não muito agradáveis para o sujeito envolvido.

Necessariamente, tais descrições tem motivado natural controvérsia entre diferentes ”escolas” de investigadores, não podendo afirmar-se neste momento qual a teoria mais plausível que justifique os estímulos primários, exteriores ou interiores, à testemunha que poderão estar na base de histórias com padrões comuns. Perturbador, seja o que for se esconde por detrás dessas alegadas experiências: pandemia, nova doença, fenómeno alheio à consciência, seja o que for, deve preocupar e incentivar a busca de soluções e hipóteses de trabalho no seio da comunidade académica.

Outros simpósios, aliás relativos a esta controversa e ignorada área da experiência humana, tem sido regularmente promovidos por elementos da Organização dos Psiquiatras Americanos que se dedicam ao tratamento e investigação das ”experiências traumáticas anómalas”, sob a direcção da Dr.ª Rima Laibow.

O mais recente contributo pelo esforço de inovação metodológica e pela colecta de dados estatisticamente representativos, neste particular aspecto da fenomenologia ”anómala” e extraordinária, centra-se actualmente no trabalho do Prof.John Mack, docente prestigiado de Psiquiatria da Escola Médica de Harvard, galardoado com o Prémio Pullitzer e fundador do Center for Psychology and Social Change, associado àquela prestigiada universidade. Cerca de quatro centenas de processos de alegados ”sequestros” (abduction) constituem já uma sintomatologia que, para o especialista citado, ”não tem resposta em termos psiquiátricos”. O debate e a polémica tem vindo a incorporar cada vez mais especialistas das disciplinas clínicas e cognitivas, buscando hipóteses testáveis e soluções para esta complexa síndroma, que, no mínimo, provoca notórias alterações de comportamento e da personalidade da testemunha implicada que exigem uma vigilância continuada (follow up).De citar, de igual modo, o exemplar empenho na área do estudo das ano- malias aeroespaciais da Society for the Scientific Exploration, instituição presidida pelo astrofísico Peter Sturrock, presidente da Academia Internacional de Astronáutica. A SSE, sediada na Universidade de Stanford, edita trimestralmente o Jornal of Scientifc Exploration, verdadeiramente exemplar e fundamental para quem quiser manter-se informado das teorizações e experimentalismos mais arrojados, paradigma das incursões académicas nos limites do conhecido, onde colaboram dezenas de académicos de renomadas universidades norte-americanas, com destaque para Princeton e Virgínia, além de contributos de cientistas europeus de reconhecido mérito.

De salientar também a actividade dos grupos sediados nos EUA, o Center for UFO Studies e o Mutual UFO Network (MUFON), para citar os mais apetrechados e intervenientes organismos civis, essenciais na intervenção de campo, e onde colaboram algumas centenas de doutorados e mestres, consultores de um variado espectro técnico-científico, das ciências físicas as humanas e sociais.

De referir ainda, na Europa, o excelente e discreto trabalho do grupo MUFON-CES, que na Alemanha, Suiça e Áustria reúne uma elite académica universitária de cerca de uma centena de membros procedentes de diversas instituições de investigação técnica, industrial, etc., e do não menos renomado Max-Planck Institute. Destacam-se igualmente a nível europeu, e longe de esgotar o elenco, interessantes trabalhos de cientistas das Universidades Livre de Bruxelas e da Católica de Lovaina, da Academia de Ciências Húngara e do Ostfold College of Engineering, da Noruega.

Deste modo, e a partir desta recolha, não-exaustiva, sobre o investimento académico nesta área das ”anomalias aeroespaciais”, é descabido afirmar-se que não há ”verdadeiros cientistas” empenhados no estudo destes problemas. Posições dogmáticas e cristalizadas sobre esta matéria tem tentado reduzir o interesse acerca destes fenómenos a uma atitude pueril e ingénua, própria de amadores ou fanáticos, cultistas de noções extraterrestres primárias, ignorando deliberadamente todos os indicadores de uma intervenção corrente, competente e multidisciplinar nestes domínios.

Esquece-se muitas das vezes, por défice de cultura global, que o conhecimento científico não se mede apenas pela quantidade e o número, antes comporta avaliações a níveis muito diversos e complementares do ser humano.

Prova indubitável da abordagem académica dos chamados temas ”anómalos” e da sua dignificação são as teses universitárias que, em número crescente, têm sido realizadas quer na Europa, quer nos Estados Unidos. Neste país, a data que escrevemos, estão a ser finalizadas 11 teses de doutoramento sobre as diferentes facetas da fenomenologia dos ovnis, abarcando análises e perspectivas desde as ciências humanas e sociais, cognitivas, filosóficas, etc.! Um ”outro mundo”, um modo diverso de entender a missão essencial da ciência e do conhecimento, consagrando o clássico aforismo do sábio: ”Nada do que é humano me é alheio.”


Incursões na história dos prodígios celestes

Exemplo do que atrás disse é a tese de mestrado em Sociologia de Christophe Campiglia, apresentada em 1992 à Universidade de Nantes. Intitulada ”L’irrationnel et ses habi- tants a deux periodes distinctes de l’Histoire: les OVNI au XXe siècle et les fées, les lutins, le diable et la mort du XVe siècle”, procura estabelecer paralelismos entre as superstições e as crenças do período da Idade Moderna (séculos XV a XVIII) e as personagens que habitam o ”universo” da fenomenologia ovni, mais concretamente os seus alegados ”ocupantes”, que o folclore urbano, sob o estimulo da corrente da ficção cientifica dos anos de ouro (década de 50), designou por ”homenzinhos verdes”.

A metodologia utilizada pelo autor tem os seus precedentes em trabalhos do astrofísico francês, naturalizado americano, Jacques Vallée, um dos inovadores teóricos destes temas, e do etnólogo Bertrand Méheust, da Universidade de Paris VII, cuja obra Soucoupes Volantes et folklore é exemplificativa desta homologia. Facto relevante é que desta vez estamos em presença de uma tese universitária ilustrativa do já referido investimento e plena de legitimação académica destes problemas por parte, neste caso, dos cientistas sociais.

Campiglia alude as hipóteses usualmente sustentadas quanto à origem dos fenómenos tipo ovni: a extraterrestre, que identifica os objectos voadores não-identificados com ”engenhos espaciais provenientes de civilizações alienígenas” que eventualmente pudessem ter resolvido as dificuldades ”terrestres” do voo no espaço e os limites da velocidade da luz, e a dita racional, que actua de acordo com padrões avaliadores mais económicos, reduzindo essas manifestações a fenómenos naturais, astronômicos ou atmosféricos, ou ainda a objectos artificiais terrestres, mas não reconhecidos como tal pelos observadores.

Por outro lado, o investigador analisa, em breve resenha introdutória, os conceitos das testemunhas acerca desses ”mundos irracionais” habitados por estranhas populações, considerando o problema do ponto de vista da crença colectiva naquilo que hoje se designa por fenómeno ovni. Entre o que foi visto no passado e o que tem sido observado no presente há pontos de contacto, descrições idênticas? Que respostas podemos obter ao examinar ou interrogar os testemunhos escritos ou orais? Uma panorâmica dos diferentes períodos históricos e do respectivo estádio de desenvolvimento técnico e científico é feita ao longo do trabalho citado: Campiglia sugere que os ”carros”, os ”veleiros” ou as ”armadas celestes” do século XV ao XVIII foram sendo substituídos pelos ”discos voadores” aerodinâmicos logo após o rescaldo da II Guerra Mundial. Mas antes deles, já nos finais do século XIX, a vaga norte-americana dos airships (1897) precedia por pouco as soluções do voo aéreo terrestre.

A capacidade volumétrica de sustentação dos grandes corpos, enfim, a antecipação dos progressos humanos no domínio da velocidade, da manobrabilidade, da aerodinãmica, desenhava-se já, de acordo com centenas de testemunhos dessa época, nas propriedades incríveis desses ”navios fantasmas”, espécie de protótipos vindos do futuro.

A investigação do autor francês não esquece os pequenos-grandes detalhes colhidos no anedotário das atitudes e comportamentos das personagens que habitam estas ”aeroformas” singulares: por exemplo, as ”armas” paralisantes de raios laser actuais recordam a magia das ”varinhas de condão” das fadas da nossa infância; as capacidades ”telepáticas” dessas criaturas, ”ocupantes” do ovni, que permitem aos “contactados” do nosso tempo a recepção das mensagens de prevenção sobre o advento dos apocalipses, constituem outras tantas repetições bem patentes nos anais do folclore laico e religioso.

Esta análise de sociologia histórica mostra bem como o universo académico mais informado e ao corrente dos mais recentes desenvolvimentos cognitivos e das novas propostas epistemológicas não tem rebuço algum em investir no tratamento rigoroso e pertinente destas zonas ”obscuras” da experiência humana.

Apenas uma lamentável desinformação, maus hábitos de leitura e um certo desleixo intelectual transformam esta problemática, rica e proveitosa em termos de estimulo à reflexão filosófica e científica global, num emaranhado de ”superstições modernas” e idéias prévias sem qualquer fundamento, plasmadas nas interpretações e “leituras” viciadas de alguns media.

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