quarta-feira, 8 de abril de 2009

Vodu: Os Aspectos Secretos da Magia

VODU – a própria palavra evoca imagens lúgubres de mortos a caminhar, bonecos de cera letais cravejados de alfinetes e bizarros rituais realizados à meia-noite nas profundidades da floresta virgem do Haiti. Mas o vodu é mais do que mera magia negra, ou maléfica.


Na sua forma original, foi trazido por escravos africanos para a ilha caraíba do Haiti no século XVI. Aí entrou em contacto com a religião católica romana dos colonos franceses proprietários de escravos, em consequência do que absorveu muitas das complexidades do catolicismo sem jamais perder a sua natureza essencialmente pagã. Assim, por exemplo, actualmente ainda muitos haitianos acreditam que pelo menos um dos aspectos do deus-serpente vodu Damballah é fielmente representado na reprodução convencional de S. Patrício da Irlanda.

Tal como acontece com muitas religiões orientadas para a magia, a ideia essencial do vodu é a de que toda a realidade é uma espécie de fachada por detrás da qual actuam forças espirituais muito mais importantes. As árvores podem ser as moradas de espíritos poderosos; a doença e a morte nunca são fortuitas, mas constituem sempre um sinal de retribuição divina ou mágica.

Este mundo de espíritos vodu é chefiado por Legba, mediador entre o homem e os espíritos. Outros deuses importantes, ou loas, incluem o deus-serpente Damballah, fonte de virilidade e poder; Erzulie, deusa do amor, ciúme e vingança, e Guede, que, juntamente com auxiliares sinistros como o mal-afamado Barão Samedi, preside aos mistérios da morte e feitiçaria maligna. Numa posição hierárquica inferior à dos deuses mais importantes encontram-se as divindades menores, por vezes denominadas deuses petro, e abaixo destas inúmeros espíritos, incluindo muitos anteriormente humanos.

Nos elaborados rituais do vodu, os adoradores invocam estes loas e espíritos, esperando ser possuídos por um que traga boa sorte, efectue uma cura, aplaque a alma de um morto, conjure o mal, consagre um sacerdote ou desempenhe qualquer outro serviço de carácter mágico.

Uma cerimónia vodu típica terá lugar numa noite de sábado num houmfor, um templo situado na floresta haitiana. O houmfor consiste geralmente num pequeno edifício onde são guardadas as relíquias sagradas, uma sala adjunta lateralmente aberta e um pátio ou clareira onde se reúnem os adoradores. Um sacerdote denominado houngan (ou, no caso de se tratar de uma mulher, manbo) inicia as cerimónias na sala exterior com preces, encantações e libações propiciatórias. Desenha no solo símbolos mágicos, ou veves, especificamente destinados aos loas que deseja convocar nessa noite. Os adoradores começam a cantar e a dançar e, à medida que o seu frenesim aumenta, oferecem-se sacrifícios aos deuses – geralmente galinhas ou cabras. A determinado momento, se a cerimónia se processar devidamente, os corpos de pelo menos alguns dos adoradores são possuídos pelos loas. Os indivíduos possuídos contorcer-se-ão de um modo incontrolável, falarão com vozes estranhas e por vezes línguas ininteligíveis e, finalmente, tombarão no solo, o que será considerado um sinal de que os loas favoreceram a petição dos adoradores.

São, porém, os aspectos mais secretos do vodu que mais tem apelado para a imaginação do Mundo. E o vodu – um sistema de crença enraizado no medo – possui efectivamente aspectos muito secretos. Práticas como assassínios rituais, canibalismo e magia negra são atribuídas a determinadas sociedades secretas de vodu conhecidas colectivamente como seitas vermelhas. Feiticeiros denominados bokos invocarão, a troco de uma retribuição monetária, a ajuda do Barão Samedi a fim de lançar maldições fatais sobre os vivos – e eventualmente maldições mais aterrorizantes ainda sobre os que acabaram de morrer, pois são estes que é possível, através da magia, transformar em zombies, cadáveres reanimados condenados a servir para sempre os seus senhores como escravos descerebrados. Diz-se que François (Papa Doc) Duvalier, o falecido ditador do Haiti, utilizou este aspecto mais secreto do vodu como meio de manter o controle sobre os seus supersticiosos súbditos.

Embora estejam sobretudo concentradas na ilha do Haiti, as crenças e práticas mágicas do vodu divulgaram-se facilmente nos EUA, via tráfico de escravos, conseguindo a sua primeira e mais poderosa base de apoio na Luisiana no século XVIII. Em meados do século XIX, a influência local do vodu era suficientemente grande para permitir que uma mambo que se autopromoveu, Marie Laveau, se tornasse uma celebridade de Nova Orleães, igualmente protegida por brancos e negros. Da Luisiana, Geórgia e Carolina do Sul, o vodu espalhou-se para norte para os guetos e zonas suburbanas das grandes cidades industriais. Já em 1978 o oficial da Polícia Hugh J. B. Cassidy, antigo comandante do 77th Precinct de Nova Iorque, calculou que na secção Bedford-Stuyvesant de Brooklyn havia 30 houmfors secrets e talvez 100 hounguns e mambos praticantes.

A magia vodu surte efeito? Pelo menos num sentido a resposta tem de ser afirmativa. Num estudo bem conhecido intitulado Voodoo Death, o fisiólogo de Harvard Dr. Walter B. Cannon descreveu o processo através do qual um crente do vodu pode morrer de medo se pensa que foi amaldiçoado. O choque auto-infligido, com as consequentes deficiências circulatórias e quebra de fornecimento de oxigénio aos órgãos vitais, pode ser precipitado, afirmou o Dr. Cannon, pelo simples «poder fatal da imaginação agindo através do terror absoluto».

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