quarta-feira, 20 de maio de 2009

Combustão Espontânea

Poderá um corpo ficar em chamas e converter-se em cinzas em apenas alguns minutos? Os forenses acreditam que não, porém as suas razões nem sempre são convincentes


Num dia gélido no início de Janeiro de 1980, John Heyme, um agente do Departamento de Investigação Criminal (DIC), foi chamado para investigar uma "morte por combustão" em Gwent (Grã-Bretanha). Quando entrou na sala da casa, ficou surpreso ao comprovar que a habitação irradiava um calor considerável e que a atmosfera era muito húmida. A luminosidade de cor vermelho-alaranjada possuía uma aparência estranha e sobrenatural.

No tapete havia um monte de cinzas brancas e num extremo jazia um par de pés humanos com meias. Na outra extermidade encontrava-se uma caveira negra. Tratava-se dos restos de Henry Thomas, de 73 anos de idade.

Nada mais havia queimado além da cadeira em que Thomas estava sentado. A luz da lâmpada misturava-se com a do dia produzindo uma claridade alaranjada, filtrada por um pegajosa névoa provocada pela carne queimada, que cobria tudo o que havia na habitação.

O tapete e a coberta que estavam debaixo do corpo encontravam-se só um pouco chamuscados. Como poderia um corpo, que contém aproximadamente 45 litros de água, ter sido reduzido a cinzas enquanto que materiais altamente inflamáveis, como o tapete e a coberta, permanecerem relativamente intactos?

Um forense que esteve na cena afirmou que a cadeira só queimou enquanto esteve em contacto com o corpo. Quando o assento quebrou e o corpo flamejante caiu no chão, a cadeira deixou de queimar. O mobiliário que estava em volta não queimou devido ao facto do oxigénio da habitação ter se esgotado na combustão inicial. Além do mais, a porta do quarto estava vedada com um pedaço de pano impedindo que entrasse oxigénio suficiente para manter outra combustão. Então, como o corpo pôde continuar queimando até se transformar em cinzas?

O forense expôs a teoria de que Thomas, um não fumante, tinha caído de cabeça na lareira, incendiando-se. Em seguida afastou-se do fogo sem desarrumar as brasas, os ferros da lareira ou a pilha de lenha que estava ao lado da lareira. Voltou a sentar-se na cadeira, estendeu as pernas e queimou até morrer.

A Versão Oficial

O juiz de instrução aceitou esta teoria e julgou que a causa da morte havia sido um incêndio. Heymer ficou surpreso com o veredicto. A sua experiência em medicina legal o fez duvidar do relatório do patologista. Na sua opinião, tratava-se de combustão humana espontânea (CHE). Quando informou o facto aos seus superiores, estes descartaram imediatamente a sua opinião.

Porém, se Thomas caiu na lareira, porque voltou a se sentar na cadeira ao invés de ir à cozinha para tentar apagar as chamas? E se caiu na lareira, onde começou então o fogo? E por que nenhum objecto queimou quando Henry Thomas foi reduzido a cinzas? A CHE pode responder todas estas indagações, porém existem evidências deste surpreendente fenêmeno.

Um dos argumentos em favor da existência da CHE é que nem um forno crematório pode reduzir completamente os cadáveres a cinzas. Os ossos que sobram depois de cremação, têm que ser moídos numa máquina especial, e as cinzas são de cor cinza, e não brancas. As cinzas de Henry Thomas eram absolutamente brancas, o que indica que a temperatura superara os 900 °C de um forno crematório.

Os restos de Thomas são típicos de uma CHE. Em 1986, quando um saudável homem de 58 anos - que ironicamente era um bombeiro reformado - queimou até morrer em sua casa em Nova Iorque, tudo o que sobrou dele foram alguns ossos e 2 quilos de cinzas. Como na maioria destes casos, nada da casa foi afectado e nem sequer uma caixa de fósforos que estava próxima do local foi queimada.

Para reduzir o corpo a cinzas, o fogo deve alcançar uma temperatura da ordem dos 2500°C. Os incêndios domésticos que podem destruir um edifício inteiro, apenas chegam a aproximadamente 200ºC.


O "Efeito Pavio"

Acredita-se que a CHE pode ser explicada com a teoria do efeito pavio. Esta teoria sustenta que as roupas num corpo humano actuariam como um pavio externo e a gordura do corpo, como a cera de uma vela. Caso o corpo esteja em contacto contínuo com uma chama e haja uma boa quantidade de oxigénio, nem sequer é necessário que a vitima seja obesa.

Colocando em prática o "Efeito Pavio":

1)-Foi simulada uma "vela humana", envolvendo-se um osso de porco com carne e gordura frescas. A gordura de porco deveria ampliar o efeito.
2)-O osso foi envolvido com tecido, e lançou-se nele um cigarro acesso. O tecido só ficou chamuscado sendo necessário acender uma chama para que pudesse queimar.
3)-Uma vez queimado até transformar-se em cinzas, as chamas apagaram-se sem que a gordura se tivesse incendiado. É assim que um corpo humano queima em circunstâncias normais.

4)-Para assegurar que continuasse a queimar-se, foi necessário aplicar uma chama para eliminar a água e permitir que a combustão reiniciasse.

5)-Para conseguir esta carbonização foram gastos 50 minutos a mais. A combustão tinha terminado e o osso enegrecido sobressaía pelas extremidades.

6)-A gordura foi eliminada com uma escova metálica. Debaixo desta camada, o osso não apareceu queimado. Na CHE não tinha ficado osso nenhum.

Tranformado em Chamas


Quando um corpo queima em circunstâncias normais,
as pernas são as primeiras a converter-se em cinzas.



Em 1965, o professor Gee, do hospital da Universidade de Leeds (Inglaterra), pesquisou um caso documentado do chamado efeito pavio. Tratava-se de uma mulher de 85 anos que, possivelmente sofrera um ataque cardíaco e caíra na lareira. Passaram-se algumas horas até que ela fosse encontrada, Segundo o professor Gee, ainda que tenha sofrido o efeito pavio, os seus restos carbonizados mostravam sinais de CHE.

"Os cépticos erram ao insistir que todos os casos de CHE são provocados pelo efeito pavio - afirma John Heymer. "Averiguei que existem importantes diferenças. Na maioria dos casos de efeito pavio, as vítimas morrem antes de entrarem em contacto com o fogo. As vestimentas são inflamáveis e queimam até converterem-se em cinzas, inclusive sobre partes do corpo que não tenham queimado. Além disso, o processo de cremação requer de 24 a 48 horas para alcançar alguns resultados semelhantes ao caso de Henry Thomas".

John Heymer é um dos melhores pesquisadores da CHE. Outra importante figura é Larry Arnold, director da ParaScience International, um grupo de pesquisa paranormal dos EUA. Ambos colectaram provas que descartam o efeito pavio como explicação da CHE. Afirmam que em certos casos, o fogo origina-se no interior dos corpos e que as temperaturas são suficientementes altas para reduzir os ossos a cinzas.


Uma Teoria Explosiva

John Heymer garante que a CHE é o resultado da reação do hidrogénio e do oxigénio dentro do corpo, a nível celular. A potência de uma mistura adequada destes elementos é a mesma utilizada pelos foguetes espaciais. Afirma que não existe dúvida de que a reacção hidrogénio-oxigénio pode produzir uma quantidade de calor suficiente para reduzir a cinzas ossos humanos.

Segundo a revista New Scientist, do dia 4 de maio de 1996, John Heymer "encontrou a melhor explicação possível para o fenómeno". Existem muitas outras teorias sobre a CHE- com as quais os raios de roda, as forças magnéticas e inclusive os gases" fosfóricos" produzidos pela combustão de gás metano nos intestinos.

Contudo, existem pessoas que presenciaram incêndios que segundo elas desafiaram qualquer explicação. Uma destas testemunhas é o bombeiro Jack Stacey, que apagou um incêndio de um imóvel abandonado em Londres. A casa não possuía sinais de fogo, mas quando Stacey examinou o corpo de um indigente conhecido como Bailey, - "Possuia um corte de aproximadamente 10 centímentros no abdómen - recorda Stacey. As chamas saíam violentamente pela ferida, como se fosse um maçarico". Para apagar esta violenta chama, Stacey dirigiu um jacto de água no corpo do indigente, "extinguindo-se a chama na sua origem. Não há dúvida de que o fogo iniciou-se no interior do corpo."

Não se soube a causa real do incêndio. No edifício não havia gás nem eletricidade e não foram encontrados fósforos. Mesmo que Bailey tivesse deixado cair um cigarro acesso sobre si, isto não teria sido suficiente para produzir uma chama tão destruidora.

Em 1982, em Londres, Jeannie Saffin, uma mulher doente mental, ardeu em chamas enquanto estava sentada em uma cadeira de madeira na cozinha de sua casa. O seu pai, que estava sentado próximo dela, viu um brilho luminoso e ao virar para Jeannie, viu que ela estava em chamas.

Jeannie não gritava nem se movia. O seu pai empurrou-a até à pia e chamou omseu genro, que correu até a cozinha para ver o que acontecia. Puderam apagar as chamas, mas Jeannie morreu mais tarde no hospital.

O agente que fazia as averiguações não encontrou nenhuma causa aparente do que havia ocorrido, e assim foi registrado nos relatórios. Disse que os parentes de Jeannie - o seu cunhado declarou na investigação - acreditava que ela tinha sido vítima da CHE.


A Negação dos Factos

O veredicto foi de morte acidental. O juiz de instrução disse para a família: "Sinto muito, mas não posso indicar como causa da morte a CHE, porque isso não existe. Terei que fazer constar morte acidental ou veredicto aberto".

Quando posteriormente foi questionado sobre o assunto, o juiz disse que "morte acidental" era o mesmo que "morte por causas desconhecidas" e que não tinha a intenção de discutir mais sobre o assunto. Contudo, como se pode julgar acidental, uma morte cuja causa é desconhecida?

Será que as autoridades suspeitavam que a morte estivesse relacionada com a CHE? Isto poderia explicar por que não foram feitas investigações mais aprofundadas. Ao comentar sobre a falta de investigações forense, a irmã de Jeannie disse: "Tudo o que descobriram, nós mesmos poderíamos ter averiguado".

O Encobrimento da CHE

É estranho que as autoridades não tivessem aceitado o depoimento de 2 homens que diziam ter visto Jeannie entrar em chamas e morrer por causa das queimaduras.

"Se a CHE não aconteceu e não se pôde encontrar nenhuma fonte de combustão - comenta Heymer -, estranho muito o facto de não terem interrogado as testemnuhas mais a fundo, para garantirem-se de que eles não a tivessem queimado. Parece ser uma maneira muito simples de cometer um assassinato: queimar uma pessoa até a morte e depois jurar que esta ardeu espontaneamente. Também estranhei que as autoridades insistissem, sem nenhuma prova, em que o incêndio foi acidental".

Apesar disto, o caso de Jennie Saffin, assim como todos os casos de CHE registrados, permanecem encerrados.

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