quarta-feira, 20 de maio de 2009

Xamãs – uma elite mística

Intermediários entre os espíritos e a realidade, eles são curandeiros, profetas e decifradores de sonhos

Em finais de 1896; na actual Malásia, W. W. Skeat assistiu a uma cerimónia extraordinária, raramente presenciada por ocidentais. Junto à cama de um doente chamado Brahim, a mulher do xamã tocava uma espécie de tamborim; depois, começou um canto rítmico em honra do espírito do tigre. O curandeiro xamânico, ou pawang, espalhou então incenso até ficar envolvido em fumo, que inalou profundamente e esfregou sobre o corpo. De súbito, um espasmo violento perpassou-lhe o corpo, e ele caiu em estado de transe. Em seguida, massajou Brahim com uma folha de palma coberta de óleo e foi agitado por convulsões mais fortes, das quais saiu aparentemente transformado no espírito do tigre. «De gatas e rugindo baixinho, começou a arranhar furiosamente com as unhas o tapete sobre o qual estivera deitado», escreveu Skeat no Jornal do Ramo de Singapura da Real Sociedade Asiática (Junho de 1898). «Lentamente e sem hesitações, o pawang lambeu todo o corpo do doente, exactamente como um tigre fêmea faria à sua cria.» Em seguida, o xamã deitou-se e ficou semiadormecido durante quase um dia. Passados mais dois dias de cerimónias, Brahim estava curado.

Sendo um sistema espiritual que data da Idade da Pedra, o xamanismo encontra-se em regiões tão distantes como as Américas do Norte e do Sul, Austrália, Japão, Tibete, Indonésia e Nepal. Xamã deriva da palavra siberiano-tungúsica saman, que significa «alguém que é excitado, movido ou erguido». As culturas xamânicas partilham a crença de que o Universo está cheio de espíritos-deuses invisíveis que interactuam com os homens. Através de estados de consciência alterados, os xamãs contactam com esses espíritos, entrando em transes extáticos em que as suas almas ascendem ao céu ou descem ao mundo dos mortos. Agindo como intermediários entre os espíritos e o mundo quotidiano, os xamãs curam a doença, predizem o futuro, controlam o tempo e interpretam sonhos.

Um dom especial: Os xamãs, homens ou mulheres, herdam por vezes os seus poderes mágicos, mas em geral adquirem-nos através de visões em sonhos ou durante uma doença grave ou um período de desequilíbrio mental misteriosamente ultrapassado. Entre os Wiradjeri, da Austrália, o deus Baiame aparece em sonhos àqueles que devem tornar-se xamãs. Baiame é um velho com uma barba comprida que está sentado com as pernas cruzadas e dois grandes cristais de quartzo que se estendem dos seus ombros até ao céu. Faz jorrar quartzo líquido sobre os corpos dos xamãs, que são completamente absorvidos. Depois, os braços destes são substituídos por asas e eles aprendem a voar. Baiame «canta» um pedaço de quartzo mágico, fazendo-o penetrar na testa dos que com ele sonham para lhes permitir penetrar as realidades místicas. Em seguida, uma «chama interior» e uma «corda celeste» são incorporadas no corpo de cada novo xamã.

Alguns xamãs também se tornam curandeiros. Para alcançar o mundo onde a saúde e a doença residirão, entram em transe recorrendo a várias técnicas – rufar de tambor repetitivo, danças, cânticos, jejuns, concentração intensa e até o consumo de certas plantas que causam alterações da mente. Em 1932, o antropólogo Popov registou viagens em estado de transe entre o povo Nanay, da região Tungus da Sibéria. O xamã descrevia uma descida ao «mundo inferior» para se encontrar com animais mágicos que o levavam aos espíritos responsáveis pela doença.

Cântico sem palavras: Os cânticos são um elemento importante das curas xamânicas. Em muitas culturas, o som é a ligação entre os homens e os deuses, seja na forma de canto, de rufar de tambores ou dos sons fundamentais da Natureza. Um índio gitksan americano, Isaac Tens, começou a entrar em estados de transe involuntários aos 30 anos, com visões muitas vezes aterradoras de espíritos de animais que o perseguiam. Depois de um desses transes, Tens disse que tinha começado a cantar, tremendo: «Saía de mim um cântico sem que eu pudesse fazer nada para o impedir. Em seguida, muitas coisas começaram a aparecer aos meus olhos: pássaros enormes e outros animais. Chamavam por mim ... Tais visões acontecem quando um homem está prestes a tornar-se um halaait (curandeiro xamânico).»

Através desses transes, os xamãs afirmam que entram no reino das almas, espíritos e deuses, tornando-se uma ponte entre a realidade vulgar e a realidade sagrada. Os membros desta classe de elite são os guardiães da alma de cada comunidade.


Magia dos Zulus

Quando morreu, aos 35 anos, David Leslie, caçador e comerciante sul-africano do século XIX, foi elogiado no jornal The Natal Mercury como homem de «notável sagacidade e espírito astuto» – ou seja, não era um tolo ingénuo.

Leslie travara amizade com chefes zulus, e na companhia deles experimentara muitos fenómenos estranhos. Por isso, tinha adquirido um grande respeito pelos talentos aparentemente paranormais dos adivinhos e feiticeiros zulus.

Em certa ocasião, em 1875, Leslie contratara oito caçadores. Estes tinham-se espalhado numa extensão de 320 km, e ele já não tinha contacto com eles há algum tempo, pelo que pediu a um adivinho que lhe dissesse onde estavam. O xamã contou que dois tinham morrido e um terceiro tinha morto quatro elefantes, dando pormenores acerca dos cinco restantes: «Os homens foram minuciosa e correctamente descritos, o mesmo sucedendo com o seu êxito ou falta dele ... para meu assombro, verifiquei que todos os pormenores estavam correctos.» Leslie tinha a certeza de que não era possível que tais informações tivessem sido transmitidas pelos meios normais.

Noutra ocasião, o caçador encontrou uma mulher muito conhecida entre as tribos africanas pelas suas capacidades como médium. Esta disse-lhe que, quando ele deixasse o território, fá-lo-ia sozinho, sem os companheiros que trouxera nem o gado que comprara. As suas palavras realizaram-se, mas de forma infeliz. Um búfalo matou um criado, um crocodilo matou outro, e os restantes fugiram. Leslie não teve opção senão deixar o gado para trás.

Relatos de europeus que observaram a eficácia da magia africana não são raros. Brian Inglis, falecido historiador britânico de investigação sobre fenómenos psíquicos, fez notar que, através dos séculos, muitos viajantes e missionários tem descrito a aparente utilização pelos xamãs da segunda visão e magia. O antropólogo britânico Edward Tylor rejeitou a ideia de que houvesse fraude nesses feitos. Na sua obra Cultura Primitiva, de 1871, dizia que «a magia não tem a sua origem em actos fraudulentos, e raras vezes parece ser praticada com carácter de impostura total»


Os Antigos Poderes dos Modernos Xamãs

Muito do que actualmente sabemos sobre magia antiga deve-se não a estudos arqueológicos, mas à pesquisa realizada por antropólogos entre tribos dos tempos modernos. Apesar das variações entre as diferentes culturas, a magia praticada por esses grupos contemporâneos em todo o Mundo parece ser baseada em conceitos que não sofreram alterações significativas durante mais de 25 000 anos.

No âmago dessas crenças reside a convicção de que no interior de todas as coisas, vivas ou inanimadas, existe um espírito – invisível mas consciente e frequentemente muito poderoso. Assim, um índio do Brasil que mata um jaguar não destrói pura e simplesmente o animal, cujo espírito potencialmente vingativo deve ainda ser aplacado. Pela mesma razão, um ashanti do Gana não derrubará uma árvore sem primeiro executar um ritual destinado a aplacar-lhe o espírito.

Um método quase universal de defesa contra as multidões de espíritos invisíveis consiste em constuir-lhes santuários. Se for possível persuadir um espírito a instalar-se num santuário, mais facilmente se controlará o seu poder. Assim, as tribos das montanhas da Nova Guiné constroem regularmente pequenos santuários, ou «casas dos espíritos», adjacentes à pocilga da família, onde colocam alimentos. Se o santuário conseguir atrair um nakondisi (espírito da floresta), este acabará muito provavelmente por ajudar o membro da tribo a cuidar dos seus porcos.

Dos muitos espíritos que vagueiam pelo mundo da imaginação tribal, nenhuns são mais importantes ou potencialmente mais maléficos que os espíritos dos mortos (que podem ser também, graças à crença generalizada na reencarnação, espíritos dos nascituros). Para muitos, o estado de morte não está muito longe do de vida. As aldeias tribais são habitadas por gerações de fantasmas, os quais, segundo crença geral, continuam tão preocupados com a existência e os problemas da comunidade como estavam em vida. De facto, as únicas diferenças realmente importantes que distinguem mortos e vivos são a desencarnação dos mortos e o facto de os mesmos, em algumas culturas, possuírem um maior poder mágico. Quem quer que duvide da imanência do morto, afirmam os Congoleses, é louco: basta apenas comprimir o ouvido contra o solo para ouvir o fúnebre rufar dos seus tambores.

Não surpreende, pois, que quem quer que acredite que possui poder suficiente para contactar com o mundo dos espíritos em nome da comunidade represente um recurso valioso – e eventualmente vital – para a sociedade em que vive. Todas as tribos possuem um desses indivíduos, denominado quer feiticeiro, quer sacerdote, quer nganga, quer adivinho, quer curandeiro, houngan ou xamã, termo usado pelos Tunguses, povo da Sibéria Oriental, e adoptado pelos cientistas modernos para designar esses sacerdotes tribais. O xamã de uma tribo é o seu mágico por excelência, capaz de provocar a chuva, curandeiro, profeta, protector e elo principal com o mundo dos espíritos. Sem ele, a tribo estaria totalmente perdida.

Muita da prática do xamã assenta numa de duas categorias: magia simpática, utilizando um suporte físico, tal como projectar jactos de água no ar para conseguir chuva, e magia contagiosa, independente de qualquer suporte físico, tal como rogar uma praga ao cabelo ou a outros elementos pessoais de um inimigo para lhe causar dano. Apenas há alguns anos, e por receio da magia contagiosa, os apoiantes do exilado rei africano do Buganda declinaram a sugestão da oferta ao monarca de uma almofada cheia de pêlo cortado das barbas dos seus súbditos, dado o grave risco de tal almofada cair em mãos xamãs erradas.

O poder do xamã, quer este o seja por hereditariedade, treino ou por revelar provas espontâneas da sua vocação, deriva primariamente da sua aparente capacidade de comunicação com os espíritos, geralmente através de um transe, durante o qual o seu corpo parece ser possuído por um espírito magicamente convocado para a ocasião. Um número impressionante de antropólogos que presenciaram a actuação de xamãs testemunhou o seu poder.

Alguns destes poderes são explicáveis em termos científicos. Por exemplo, foi demonstrado por investigadores que muitas das ervas curativas usadas por xamãs ao longo dos séculos são drogas extremamente eficazes.

Mais dificilmente sujeita a uma avaliação, e em última análise mais intrigante, é a relação entre o espírito e o corpo, uma relação que os xamãs parecem ter compreendido instintivamente desde sempre e que os cientistas modernos continuam a explorar. Como muitos psiquiatras podem testemunhar, a mente possui uma capacidade misteriosa para exercer influência em padecimentos físicos. Na sociedade fechada do xamã e da tribo – uma sociedade em que praticamente todos compartilham a crença no poder do xamã –, tais forças mentais invisíveis contribuem poderosamente para a eficácia da magia do xamã.


ABSEFALESIA / AIPIROPATIA


É o acto de andar sobre o fogo,brasas quentes ou rochas sem queimar as solas dos pés. Este acto faz parte de algumas culturas, como por exemplo, na India. Vários pesquisadores acreditam que o andar sobre fogo nada mais é do que uma atividade que demonstra que as pessoas conseguem fazer coisas que acham impossíveis; é uma técnica para transformar o medo em poder. Não se considera o poder da mente como algo paranormal para vencer o medo de ficar queimado. Vencer esse medo é apresentado como um passo na reestruturação da personalidade, como uma iniciação. Para um tímido ou os que se sentem impotentes perante o que os cerca, andar sobre o fogo pode representar um acontecimento fundamental.

CÉPTICOS - O QUE DIZEM A RESPEITO DO ASSUNTO

"Caminhar sobre carvões quentes sem queimar parecem impossivel para muitas pessoas, mas de facto é tão impossível como pôr a mão num forno quente sem se queimar. Enquanto mantiver a mão no ar e não tocar no forno, metal ou cerâmica, não se queima, mesmo que o forno esteja extremamente quente. Ou, se tocar mas estiver a usar luvas protetoras, não se queima. Porquê?

Porque "o ar tem uma baixa capacidade térmica e uma fraca condutividade térmica..." enquanto "o nosso corpo tem uma capacidade térmica relativamente elevada." E um isolador isola! Assim, mesmo se os carvões estão muito quentes (1000 a 1200 graus), uma pessoa com solas dos pés "normais" não se queima desde que não demore muito a caminhar sobre os carvões e desde que a rocha usada tiver baixa capacidade térmica. Rocha vulcânica e certas madeiras servem. De facto, em vez de se queimar, os carvões são arrefecidos quando pisados, devido à relativamente alta capacidade de calor dos nossos pés.

Algumas pessoas queimam-se, não por falta de fé ou força de vontade, mas porque a sua pele é fina, não andam suficientemente depressa, as brasas são demasiado quentes, ou são de um material com elevada capacidade térmica. Mas mesmo estes podem ser pisados se os pés estiverem isolados, por exemplo, com água ou suor. (Pense como molha o dedo antes de tocar um ferro quente sem se queimar.) Mais uma vez, tem de se mover depressa ou queima-se mesmo.

O medo é devido a ignorância e fica-se triste quando se descobre que qualquer um pode caminhar sobre fogo. Os que não ganham "coragem" para caminhar no fogo, podem consolar-se com a ideia que, com alguns conhecimentos, a coragem não é necessária. "

Sem comentários:

Enviar um comentário